A estranha sina de perder amigos

Jurei jamais voltar a escrever obituários, até escrevi isso em um poema. Nós chegamos a um estágio, a um ponto cronológico de nossas vidas aonde as perdas são maiores que as nossas conquistas.

Nunca me relacionei bem com a morte, embora a respeite sem temer. Não a cultuo,  entretanto não a compreenda e nem a aceite.

Tenho 58 anos, Paulinho Lago 48, espaço que nunca nos separou, embora tenhamos ficado distantes um certo tempo.

Ponho-me a me repetir neste momento: quem mais, aqui nesse fim de mundo que é a cidade de Bacabal, me estimularia a ler o Livro Verde de Ghadafi ou a Constituição do Irã de Khomeini, Entre outros do gênero? Paulinho conseguiu isso, embora também bebêssemos e aborrecêssemos o Nélson na Pizzaria Blitz o obrigando a trazer o único litro de vinho que podíamos beber em um carrinho de empurrar. Sobrava um trocadinho para a pizza. Éramos intelectuais em um mundo ermo.

Paulinho nasceu para viver em Brasília, não para morrer em Brasília. Que ironia! Mas o tempo em que viveu brilhou... brilho fugaz.

Mas com ele já em Brasília, assessor do tio deputado Wagner, eu realizei o meu maior devaneio intelectual: trazer o bacabalense Papete - que hoje também convalesce de um problema similar -, de Roterdã, na Holanda, para São Paulo e de São Paulo para São Luís e, Bacabal, para desfilar na Escola de Samba Unidos do Bairro da Areia. Ganhamos aquele carnaval...

Nos desencontramos um tempo para nos reencontrarmos.na modernidade virtual.

Paulinho jornalista e professor. Eu interroguei estupefato: - jornalista e professor?

Ele respondeu: - por tua causa e motivação.

É claro que eu esbravejei, não pelo jornalista, mas pelo professor - profissão que já abandonei.

E disse: tu és doido... jornalista e professor?

Ele apenas sorriu e me contou um pouco da história que construiu recentemente...

Stephen Hawkins construiu a teoria de que não existe a vida após a morte e que o Céu e o Inferno são uma invenção para quem tem medo de escuro, não que eu creia.

Mas, hoje, tenho que aceitar o que canta Pearl Jam, e acreditar Paulinho, que existe um outro lado e que - um dia -, nos encontraremos lá.

Afinal, somos poetas. Só lamento, amigo, que eu ainda tenha um último epitáfio para escrever.

Abel Carvalho

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