Ajustes sobre servidores públicos emperram nos Estados


Mauro Pimentel/Folhapress
Servidores do Estado do Rio protestam contra o pacote de ajuste fiscal proposto pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ)
Servidores do Estado do Rio protestam contra o pacote de ajuste fiscal proposto pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ)
A maior parte dos projetos de ajuste das contas públicas aprovados nos três Estados em pior situação financeira— Rio, Minas e Rio Grande do Sul— não resolve o principal problema que levou os governantes à atual crise: o aumento dos gastos com pessoal.
Levantamento feito pela Folha em 64 projetos enviados pelo Executivo dos três Estados mostra que pouco mais da metade (36) foi aprovada nas Assembleias locais.
Apenas sete tratam de salários, previdência e benefícios de servidores públicos. Cinco deles foram aprovados no Rio Grande do Sul.
Consideradas impopulares, medidas de ajuste que recaem sobre servidores costumam ser evitadas pela classe política, pois podem desencadear em greves que afetam serviços essenciais.
Talvez por isso a saída preferencial das autoridades tem sido medidas que alteram o funcionamento ou reduzem os órgãos públicos: 22 das propostas aprovadas vão nessa linha.
Isso nem sempre significa redução das despesas com funcionários públicos já contratados. Em Minas, por exemplo, a única medida aprovada que trata do funcionalismo prevê o corte de 67 mil cargos vagos. O Estado, porém, anunciou a eliminação de 18 mil.
As outras 14 medidas aprovadas no Estado, mapeadas pela reportagem, extinguem fundações e secretarias. Os servidores foram realocados.
Elza Fiuza/ABr
Governador de Minas, Fernando Pimentel, decretou calamidade financeira no Estado
Governador de Minas, Fernando Pimentel, decretou calamidade financeira no Estado
No Rio, primeiro dos três Estados a decretar calamidade financeira, só 6 de 21 propostas enviadas pelo Executivo à Assembleia foram aprovadas. As demais ou foram rejeitadas ou devolvidas para mudança pelo Executivo.
Entre elas, o adiamento para 2020 de aumentos salariais de servidores previstos para 2017 e 2018. O aumento da contribuição previdenciária dos atuais 11% para 14% foi retirado de pauta por falta de acordo político.
A única medida aprovada no Rio que tratava de salários de servidores —a que reduzia os vencimentos do primeiro e segundo escalões do governo em 30%— foi vetada pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) nesta sexta (30).
Segundo dados do Tesouro Nacional, o Rio foi o Estado que mais elevou gastos com pessoal entre 2009 e 2015, uma alta de quase 70% já descontada a inflação. O segundo foi Minas Gerais, cujo aumento de despesas com servidores ativos e aposentados foi de cerca de 65%. O Rio Grande do Sul ficou no meio da distribuição, com alta de 39%.
A Assembleia gaúcha foi a que mais aprovou medidas de ajuste que tratam de salários e previdência de servidores até o momento. Duas delas, porém, aumentam os benefícios, como o projeto de lei que cria gratificação por desempenho a militares.
Pedro Ladeira/Folhapress
Governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori: Estado decretou calamidade financeira
Governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori: Estado decretou calamidade financeira
A CONTA NÃO FECHA
Projetos aprovados pelas assembleias não dão conta do rombo financeiro dos Estados
RIO DE JANEIRO
O que o governo propôs? Mudanças na Previdência de servidores e nos gastos com pessoal, além de redução de despesas de custeio e aumento de impostos teriam como resultado um alívio de R$ 28 bilhões no caixa do Estado
O que aconteceu até agora? De 22 projetos mapeados pela Folha, 7 foram aprovados
Exemplos de projetos aprovados:
– Redução em 30% dos salários do governador, do vice, dos secretários e subsecretários
– Economia: R$ 7,1 milhões por ano
Aumento do ICMS cobrado de cerveja, cigarro, gasolina, energia elétrica e telecomunicações
Economia: R$ 1,4 bilhão por ano
RIO GRANDE DO SUL
O que o governo propôs? Um plano com quase 40 medidas, que vão desde a fusão e extinção de órgãos públicos, até mudanças nos repasses aos demais poderes e na Previdência de servidores, que levariam a uma economia de R$ 6,7 bilhões
O que aconteceu até agora? De 27 projetos mapeados pela Folha, 14 foram aprovados
Exemplos de projetos aprovados:
– Aumento da contribuição previdenciária de 13,25% para 14% e criação de fundo de previdência complementar
– Economia: R$ 130 milhões por ano (apenas com arrecadação extra de civis)
– Fusão de três das 20 secretarias estaduais para um total de 17 secretarias
– Economia: R$ 137 milhões por ano
MINAS GERAIS
O que o governo propôs? Mudanças na estrutura do Estado, com enxugamento de cargos vagos e fusão de órgãos públicos
O que aconteceu até agora? A Folha levantou 15 projetos que foram aprovados, alguns foram alterados pela assembleia local
Exemplos de projetos aprovados:
– Extinção de 67.000 cargos vagos para servidores, apenas 18.000 foram extintos
– Economia com a proposta original: R$ 1,4 bilhão
– Fusão da TV Minas com a Rádio Inconfidência e criação da EMC (Empresa Mineira de Comunicação)
– Sem previsão de economia
Fontes: Governos e assembleias de RJ, MG e SP
OUTRO LADO
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul afirmou que o Estado vem se empenhando em, na medida do possível, equilibrar as despesas com pessoal.
Entre as ações destacadas, estão o congelamento dos reajustes dos servidores públicos em 2016 e 2017.
Via decreto, o Estado também vem fazendo contingenciamento de despesas como pagamento de horas extras em 60% do que foi gasto no ano anterior e de despesas de viagens, como passagens aéreas e diárias em hotéis.
As assessorias de imprensa das secretarias de Fazenda de Rio e Minas não foram localizadas nesta sexta (30).
(MARIANA CARNEIRO, FILIPE OLIVEIRA, JOSÉ MARQUES e ESTELITA HASS CARAZZAI

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