Escutec aponta surpresa e prevê uma guerra sem trégua na briga pelas duas cadeiras de senador

Ribamar Corrêa


Sarney Filho lidera e José Reinaldo, 
Gastão Vieira e Lobão Filho estão 
empatados. Waldir Maranhão, Weverton 
Rocha e Clóvis Fecury encontram-se 
no pelotão de trás.
Se as eleições fossem agora, os maranhenses seriam os responsáveis por uma das mais acirradas disputas de todos os tempos para o preenchimento das duas vagas no Senado da República. Uma vaga seria arrebatada pelo Grupo Sarney e a outra com forte possibilidade de ser dada ao movimento liderado pelo governador Flávio Dino (PCdoB). Esse estado de ânimo já vinha sendo previsto pela Coluna e ganhou força agora com a pesquisa do Escutec, cujas preferências do eleitorado são as seguintes: Sarney Filho (PV) com 13%, José Reinaldo (PSB) com 10,8%, Gastão Vieira (PROS) com 10%, Lobão Filho (PMDB) com 9,2%, Waldir Maranhão (PP) com 6,3%, Weverton Rocha (PDT) com 6,2% e Clóvis Fecury (DEM) com 2,1%. No contexto da pesquisa, 28,5% dos entrevistados disseram que não votariam em nenhum desses nomes, enquanto 13,9% responderam com a indecisão. Somados os que não querem nenhum desses aos indecisos, tem-se um exército de 42,4% de eleitores que ainda não têm candidatos.

Nome mais forte do Grupo Sarney nesse rascunho, o deputado federal e atual ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho aparece na ponta na preferência do eleitorado. Seguido por três nomes fortes do cenário político estadual e que já conhecem o caminho das pedras em eleições majoritárias e, segundo o Escutec, encontram-se rigorosamente empatados: o ex-governador e atual deputado federal José Reinaldo Tavares, ex-deputado federal e ex-ministro do Turismo Gastão Vieira e o empresário e suplente de senador Lobão Filho. Os quatro formam o pelotão da frente nesse estágio da corrida em que ainda são muitos os traços de indefinição. Chama atenção o fato de que eles nasceram das entranhas do Grupo Sarney. Sarney Filho e Lobão Filho são nomes de roa do grupo; José Reinaldo Tavares já foi um dos seus líderes, Gastão Vieira deixou o grupo, mas continua com trânsito fácil na seara sarneysista comandada por Roseana Sarney, sendo José Reinaldo o único desse pelotão que, mesmo tendo nascido nas entranhas do sarneysismo e ter sido um dos seus principais líderes, milita hoje no movimento liderado pelo governador Flávio Dino.

Os quatros mais bem situados nas preferências do eleitorado têm lastro político e eleitoral para alimentar seus projetos de chegar ao Senado. Do alto de uma dezena de mantados parlamentares, Sarney Filho já consolidou sua candidatura e terá o apoio total do Grupo. José Reinaldo já foi candidato a senador em 2010 e saiu das urnas com quase 800 mil votos e deve ser apoiado pelo governador Flávio Dino. E Lobão Filho tenta transformar em apoio senatorial os mais de um milhão de votos que recebeu em 2014 para governador do Estado. São, portanto, candidatos com elevado grau de viabilidade e que podem concentrar a disputa nesse quarteto.


No segundo pelotão aparecem empatados os deputados federais Waldir Maranhão e Weverton Rocha, ambos com pouco mais de seis pontos percentuais de preferência. Discretamente incensado pelo Palácio dos Leões, Waldir Maranhão, com um décimo à frente, surpreende ao mostrar fôlego politico depois da pancadaria a que foi submetido quando presidiu a Câmara Federal no período do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), e da cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e outros fatos nada republicanos que espancaram duramente sua imagem política. Weverton Rocha, ao contrário, não exibiu o cacife que deveria ter como o aguerrido e bem articulado líder do PDT na Câmara Federal e marechal de campo incontestável das forças do PDT no Maranhão. A expectativa era a de que ele estivesse medindo forças com Sarney Filho e José Reinaldo na cabeça, mas sua colocação em sexto lugar, só à frente do suplente de senador Clóvis Fecury, pode funcionar como uma bomba devastadora sobre o seu projeto de candidatura. Se as coisas permanecerem assim, vão obrigar o Palácio dos Leões a investir pesado em José Reinaldo e Waldir Maranhão.



Por fim, como não há como afirmar que a pesquisa reproduz integralmente a realidade de hoje nem negar que ela é uma referência importante e deve ser levada em conta, pois é fato que esses números já ganharam o Maranhão e o Brasil, espalhando sem reservas a notícia de que o sarneysismo ameaça o projeto político do governador Flávio Dino, situação na qual muitos não acreditam. Alertam para que, mesmo ainda a 15 messes das eleições, decisões graves e definitivas têm de ser tomadas para que o quadro da disputa comece a ser desenhado como um quadro definitivo.

PONTO & CONTRAPONTO

João Alberto e Edison Lobão não foram listados na pesquisa, mas estão no jogo da disputa senatorial



João Alberto e Edison Lobão: fora da pesquisa, 
mas no jogo visando a reeleição para as vagas 
de senador.
A não inclusão dos senadores João Alberto (PMDB) e Edison Lobão (PMDB) na pesquisa do Escutec, contratada pelo partido deles, deu margem para uma série de especulações, uma delas a de que os dois teriam sido “excluídos” e que isso teria gerado uma crise no Grupo Sarney. Nada disso. A começar pelo fato de que a pesquisa foi contratada pelo PMDB, que é controlado com mão firme pelo senador João Alberto, que definiu a relação de nomes a serem submetidos ao crivo do eleitorado. O senador João Alberto não descarta sua candidatura à reeleição, mas não faz dela um cavalo de batalha, tendo inclusive declarado que poderá abrir mão vaga de candidato em apoio à candidatura de Sarney Filho. Tem também a possibilidade de vir a ser candidato a vice-governador numa eventual chapa encabeçada por Roseana Sarney (PMDB), ou até mesmo ser o candidato do grupo para enfrentar o governador Flávio Dino na guerra pelo Palácio dos Leões. Saudável, mito ativo e mais lúcido que nunca aos 81 anos, João Alberto já aspira uma vida politicamente ativa, mas distante do frenesi do Planalto Central e da ponte-aérea São Luís/Brasília/São Luís. Nada disso tem ainda definição e ele continua no jogo, podendo inclusive ser candidato à reeleição. A situação do senador Edison Lobão é também de indefinição. Ele tem dito a amigos que está na briga e que será candidato à reeleição. Os problemas causados pela Operação Lava Jato, na qual é acusado de uma série de malfeitos cabeludos, colocaram uma densa nuvem de dúvidas sobre seu futuro. Pesquisa Escutec incluiu o filho e suplente de senador Lobão Filho entre os nomes a serem avaliados, dando a entender que se ele não for candidato à reeleição, vai brigar para que o herdeiro seja o candidato, de modo a “manter o mandato na família”, conforme teria dito Lobão Filho, segundo nota de coluna de jornal. Tudo indica que a decisão de recorrer ou não à reeleição está diretamente ligada aos desdobramentos da Lava Jato.

Não existe “primeira” e “segunda” opção para o Senado, mas sim duas vagas a serem preenchidas pelos dois mais votados
Os números do Escutec sobre as preferências do eleitorado para as duas vagas no Senado apontam para uma guerra implacável e complicada entre candidatos do Grupo Sarney, que deverá ter a ex-governadora Roseana Sarney como cabeça de chapa para o Governo do Estado e, assim, “puxar” os candidatos ao Senado, e da aliança situacionista liderada pelo governador Flávio Dino (PCdoB), que comandará as candidaturas do seu movimento. Nesse contexto, vale alertar a disputa para as duas vagas de senador não se dará entre chapas, mas entre candidatos, ainda que eles estejam em chapas que representem coligações partidárias. Assim, o eleitor é livre para escolher os seus dois candidatos ao Senado sem qualquer restrição de natureza formal ou partidária. Também não existe “primeira” e “segunda” opção, pois o eleitor terá de escolher um candidato para cada vaga, sem qualquer ordem de precedência ou preferência, e nada mais. Serão vencedores e eleitos os dois mais votados, independentemente dos grupos ou coligações a que estarão vinculados. O esclarecimento é válido porque alguns textos jornalísticos estão tratando a eleição senatorial como uma disputa na qual o eleitor terá de eleger dois senadores com os mesmos critérios e para as mesmas obrigações legislativas. A conversa de “primeira” e “segunda”, além de uma grave desinformação, é uma maneira incorreta e deformadora que pode levar o eleitor menos esclarecido a achar que o “primeiro” será mais importante do que o “segundo”. Cabe, portanto, principalmente aos formadores de opinião bater na tecla de que não haverá “primeiro” nem “segundo”, e sim dois senadores eleitos, o que os torna iguais. E fim de papo.

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