Antônia Veloso: Década de antes de 1950.

Por Antônia Veloso*

Na pequena cidade de Bacabal, Maranhão, acontecia uma transformação radical nos costumes e uma evolução total em todos os setores da sociedade local. Até então, a disparidade era cruel. A divisão entre negros e brancos era explicita e aceita naturalmente.

Nos grandes carnavais da época tinha o clube dos brancos e clube dos negros, os blocos nas ruas e nos salões eram divididos de acordo com a cor da pele e posição na sociedade.


Os antigos carnavais de Bacabal vividos e lembrados por D. Antônia.
A divisão chegava ao ponto de se ver nas ruas o bloco das meretrizes, cujo reduto era restrito a uma rua, no centro da cidade, onde as famílias recatadas evitavam passar a qualquer hora do dia de noite, então, nem pensar - e os blocos dos negros e dos brancos, separados.


Clube para Negros...
... clube para brancos.
A igreja ditava o comportamento ideal e as seitas alternativas eram consideradas satânicas. A umbanda, mais conhecida na região do que o candomblé, era proibida, e os pais e mães de santo, se descobertos, eram presos e expostos à humilhação pública.


Igreja de Santa Teresinha ainda com o seu muro de proteção.
A Praça de Santa Teresinha em sua primeira versão.
Cerimônia de 'desobriga' praticada pela Igreja Católica.
Época dos grandes incêndios nas casas coberta de palhas, ruas inteiras ardiam e o terror dominava todas as famílias pobres, que perdiam no sinistro, tudo o que possuíam. Diziam que altas horas homens não identificados jogavam bombas sobre as casas, que explodiam no calor do meio dia.

A cidade não tinha água encanada, nem rede elétrica, as famílias compravam água de vendedores, que pegavam no rio sem qualquer tratamento, daí a incidência de doenças infecciosas era muito grande. A iluminação era a base da lamparina a querosene. Saneamento sanitário, não existe até hoje, quase 70 anos depois.


Prédio da Associação Comercial de Bacabal em sua primeira versão.
Avenida Barão do Rio Branco.
 
Prédio da antiga prefeitura municipal onde hoje funciona a câmara de vereadores.
A primeira usina elétrica instalada em  1955.
Na educação apenas uma escola pública funcionava em dois turnos, onde as crianças estudavam até o quinto ano primário. Apenas um médico, fazia o atendimento da população, no consultório e nas residências, porque não tinha posto médico, nem gratuidade. As crianças nasciam em casa com o auxílio de parteiras.

O café era vendido cru e as famílias providenciavam a torrefação. O mercado funcionava numa casinha nos fundos da igreja em construção. Os poucos bois eram abatidos de tarde para serem vendidos pela manhã.

Não tinha ponte sobre o rio e a travessia era feita em canoas que, diariamente cruzavam pra lá e pra cá, carregando passageiros e bagagens. Estradas asfaltadas também não, aliás, nem as ruas.


O primeiro mercado público municipal de Bacabal.
O segundo mercado público municipal de Bacabal, ou Mercado Central.
Antiga passagem de carros sobre o Rio Mearim.
Antigo cais do porto.
Este era o retrato de Bacabal até a década de 50,quando aconteceu uma grande explosão de crescimento, mudança total nos costumes, a cidade evoluindo dia-a-dia, o Progresso e com ele toda uma transformação que acompanha a modernização.

Essa amigos é a Bacabal que eu vivi na minha infância e grande parte de minha vida adulta e, da qual eu sinto muitas saudades.

*Antônia Veloso
Dona Antônia Veloso é uma antiga ex-moradora, ainda muito apaixonada e saudosa por Bacabal, minha amiga virtual das benditas redes sociais - conversamos via Face e Messenger -, e escreveu essa crônica, arrisco a chamar mesmo de poesia em prosa, para que eu a divulgasse ao mel bel prazer demonstrando extrema confiança em meu trabalho.

Para agradecê-la pela confiança resolvi ilustrar o texto com algumas 'fotos velhas' que tenho perdidas aqui em meus muitos HD's.

Deu um pequeno trabalho, mas o resultado está aí.

Espero que você que acessa e ler o blog diariamente tenha gostado.

Abel Carvalho

4 Comentários

  1. Parabéns! Um arquivo vivo de ricas lembrancas, dona Antônia retrata a cidade em seus primórdios com a previsão de quem aqui viveu e sentiu a marca dos costumes/cultura da época.

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  2. Parabéns vó Antônia Veloso, por não deixar as lembranças da juventude se perderem no tempo.

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