Antônio Melo: Quem investiga o MP?


Resultado de imagem para antonio melo jornalista
Por Antônio Melo
Jornalista

Segundo a revista Conjur - Consultor Jurídico, talvez a mais respeitada na área do direito, "a vulgarização do instituto da colaboração premiada demitiu o investigador do dever de investigar".


Parece que tem fundamento. De vez em quando nossas TVs são invadidas pelo professor Delatol, isto é, procurador Dallagnol, mostrando em seu indefectível PowerPoint que o senhor Fulano comanda uma ORCRIM (entenda-se organização criminosa, em bom português).

E, suntuoso, professoral, gongórico, ensina que evidências são provas suficientes da culpa dos políticos corruptos e delatados e que eles, os procuradores salvadores da pátria as estão exibindo e trazendo para o escárnio da nação e danação da política. Para corroborar, sobram evidências avassaladoras como recibos de pagamentos de pedágio, documento sem assinatura, até nota fiscal da compra de um pedalinho. E, fechando com chave de ouro, a delação do amigo, homem de confiança, assessor direto, contando tudo o que o MP queria ouvir. As evidências são incontáveis, absurdas, avassaladoras. Demolidoras.


Já que o pau que bate em Chico, tem que bater em Francisco, vamos lá:
O ministério público consegue uma delação dos irmãos Joesley ao preço suspeito de um indulto dos seus crimes (que já não eram poucos); um procurador da república, Ângelo Goulart Vilela, recebia mensalmente 50 mil reais dos irmãos Friboi para passar-lhes informações relacionadas à operação Greenfield, da PF, em que eles também estavam enrolados; o procurador Marcelo Miller, da confiança do Jannot, da força tarefa da lava jato, fora cooptado pelos irmãos carniceiros para dar uma mão na "colaboração premiada" que viria em seguida; a família milionária, sabedora que a divulgação das gravações da conversa com o presidente Temer e com o senador Aécio Neves provocaria uma hecatombe na bolsa e uma elevação brutal no dólar, lucra 220 milhões com operações fraudulentas no mercado de ações e do câmbio, coincidentemente o mesmo valor que teria de ressarcir aos cofres públicos pelo acordo de delação; a "conversa de bêbados" vaza revelando comprometimento ainda maior do procurador Miller, fazendo insinuações sobre Jannot, José Eduardo Cardozo, ministra Carmen Lúcia, do STF, dentre outros; bombardeado, Jannot pede na sexta-feira 8, a prisão dos irmãos enrolados, que é concedida pelo ministro Fachin tarde da noite do mesmo dia e comunicada imediatamente à Procuradoria e Polícia Federal; a PF se diz pronta para realizar a tarefa; sábado 9, num canto de um depósito de bebidas, subúrbio de Brasília, usando óculos escuros, o procurador Rodrigo Jannot encontra o advogado Pierpaolo Bottini, defensor dos irmãos encrencados. Conversam por cerca de vinte minutos, segundo testemunhas. Os dois dizem que o encontro foi casual; no domingo 10, as 14:02h Joesley Batista, chega à sede da PF, na Lapa, em São Paulo, para se entregar; quarta-feira 13, a PF descobre no celular de Marcelo Miller que ele fazia parte de um grupo de WatsApp ainda quando procurador, junto com os irmãos Batista; na mesma data a PF, não ministério público, pede a prisão preventiva da dupla do Friboi por fraude no mercado de capitais. Wesley, irmão de Joesley, é preso pela PF.


Evidências. Um caminhão delas. Um contêiner do porto de Santos, se quiserem. Mas para que servem? Alguém vai ficar meses, um ano, dois preso até delatar? Alguém vai levantar a burca da cabeça desse misterioso ministério público para saber o que está acontecendo por trás da cortina? Quem? O Congresso acovardado? Uma OAB omissa? Uma ABI que, esclerosada, esqueceu onde deixou a chave para cerrar as portas?


É lamentável concluir: a democracia está perdendo a voz.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem