Antônio Melo: A esquerda sem calangos

Antônio Melo
jornalista

Seis anos de seca no Nordeste. Nenhum saque nas cidades, feiras ou cargas de caminhões com alimentos nas estradas. As frentes de emergência com alistamentos feitos por chefes políticos, camponeses carregando pedras, varrendo estradas de barro ou fazendo obra em fazenda particular a troco de meio salario pago pelo governo federal, nem se ouve mais falar.


E cadê os flagelados? Sobrevivem como antes comendo calango? Ou a fome matou todos? Que danado aconteceu mesmo?


Uma pista:
O Banco Mundial diz que programas como o Bolsa Família e o Brasil Sem Miséria, pensados para os mais pobres, além de reduzir a pobreza extrema de 26 por cento para 9 por cento, ainda acabou com o poder dos chefetes políticos e com a indústria da seca, ao substituir o alistamento nas “frentes de emergência” pelo cartão eletrônico do Bolsa Família, da Caixa.

Uma outra pista:
Nos tempos do liberalismo havia senador que se elegia brigando para que o salario mínimo chegasse a 100 dólares. O governo dizia que era impossível, porque quebraria o país, principalmente as prefeituras. Quando o salario mínimo atingiu o patamar de 788 reais, em 2015, correspondia a 260 dólares americanos da época. Ou seja: mais de duas vezes e meia o impossível dos tempos do liberalismo. E o Brasil não quebrou. Ao contrário, segundo o mesmo relatório do Banco Mundial, o emprego formal aumentou em 60 por cento.


Agora, 2016|17, estamos voltando ao neoliberalismo. Por isso mesmo o salario mínimo já não teve mais aumento superior à inflação, como vinha ocorrendo nos anos de governos de esquerda. Pode-se dizer que com isso estamos contendo a inflação, o que é uma boa notícia. À custa de mais desemprego. O que não é bom. E do aumento da pobreza. O que será péssimo.

Mas os neoliberais apregoam que a esquerda acabou. E acenam com mais uma “boa notícia” para salvar a pátria, do receituário amargo que têm para nós: a reforma da previdência. E justificam com um insustentável déficit de 149,7 bilhões de reais.


Realmente, é uma soma respeitável.


Agora, pesquisando, eu descobri que a previdência tem a receber astronômicos 426,07 bilhões de reais. É isso mesmo. Algo como três vezes o atual déficit. E entre os devedores estão as falidas Varig, Vasp, Bancesa e TV Manchete. Mas tem também os gigantes Itaú, Bradesco, Vale do Rio Doce e, pasmem, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

E ainda querem resolver os problemas da previdência surrupiando os nossos direitos. E tem quem ache isso bom.


Mais um dadinho interessante. A Previdência respondeu por 97 por cento do déficit das contas públicas de 2016. Dá pra imaginar do que estamos falando e o que estão nos escondendo? Dá?


As informações são da Procuradoria da Fazenda Nacional, só conhecidas graças à Lei da Transparência, criada e aprovada em um governo de esquerda.

ERREI: No jornalismo há uma regra que eu transgredi e venho à público me penitenciar. A regra é a seguinte: Mate o homem, mas não erre o nome. E eu errei.

No artigo anterior escrevi que o pai de Marcelo Odebrechet era Norberto, o que está errado. Norberto é o avô e fundador do grupo. O pai é Emílio. Fica a correção, mas não justifica o absurdo do erro.


Artigo publicado originalmente no PORTALnoar







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